Existe relação entre a ansiedade e o intestino?
O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é caracterizado por preocupação crônica e persistente.
Esta preocupação, que é multifocal (ex: sobre finanças, família, saúde e futuro) excessiva e difícil de controlar, é tipicamente acompanhada de outros sintomas físicos e psicológicos não específicos.
É mais frequente entre mulheres do que homens. A idade de início é variável; alguns casos começam na infância, porém a maioria das vezes, começa na idade adulta. Outro pico de início da ansiedade ocorre na meia idade, frequentemente sucedendo o desenvolvimento de alguma doença crônica. O TAG é, por definição, um transtorno crônico; a duração mínima da ansiedade para o diagnóstico é de 6 meses, porém a maioria dos pacientes já apresentam sintomas anos antes de procurar tratamento.
Os pacientes com TAG apresentam também risco aumentado para doenças clínicas, como a doença inflamatória intestinal.
Pacientes com alterações gastrointestinais apresentam maiores taxas de ansiedade quando comparados com a população em geral e com pessoas portadoras de outras doenças crônicas como diabetes ou hipertensão.
O oposto também é verdadeiro: pacientes com ansiedade também tem mais sintomas gastrointestinais que o restante da população.
Existem muitas teorias sobre o papel da saúde intestinal influenciando a saúde cerebral. Anteriormente, acreditava-se que o cérebro era o principal controlador do corpo humano, regulando a maioria dos processos que mantém a vida. No entanto, o intestino humano tem uma grande área de superfície, variando de 30 a 400 metros cúbicos e é habitado por microorganismos, bactérias, fungos e vírus que compõem a microbiota intestinal. O número de microorganismos é 10 vezes maior do que o de células humanas, e o material genético excede o conteúdo do genoma humano em 150 voltas.
Sendo assim, surgiu a hipótese de que a microbiota intestinal funcionasse como um órgão de controle, podendo ser chamado de segundo cérebro. Desta forma, originou-se o conceito de “eixo-intestino-cérebro”. Devido ao elevado número de microorganismos no corpo humano e às substâncias por eles produzidas, é lógico inferir que desempenham um papel importante na saúde humana, inclusive mental.
Diante disso, foi desenvolvido um novo modelo de intervenção em doenças psiquiátricas, como a ansiedade, baseado no uso de um grupo de bactérias denominado psicobióticos. Estes são definidos como “organismos vivos que, quando ingeridos em quantidades adequadas, produzem benefícios à saúde em pacientes que sofrem de transtornos psiquiátricos” e a ingestão dos psicobióticos pode induzir efeitos de alteração no comportamento e na química cerebral.
DRA LARISSA MATSUDA – PSIQUIATRA
PRECEPTORA DA SANTA CASA DE SP
COLABORADORA IPq HCFMUSP
CRM – SP 183983 /RQE 85643
https://www.dralarissamatsuda.com/
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