O Ginecologista é o médico da mulher?
É raro encontrar um homem na sala de espera do ginecologista. Quando há, normalmente eles estão acompanhando a parceira.
Mas e nos casos de que um homem precisa de atendimento ginecológico? É o que ocorre com homens transgêneros e isso é mais comum do que imaginamos.
Já é hora do médico se acostumar com esses novos termos e dos pacientes normalizarem algo que nos permeia e que ainda é um tabu muito grande.
Homem transgênero?
Homens trans são pessoas que quando nasceram foram designados como mulheres (sexo biológico), mas perceberam sua verdadeira identidade de gênero com o tempo (no caso masculina).
Por isso, muitos homens trans ainda possuem vulva, vagina e útero, pois somente alguns se interessam em fazer a cirurgia de redesignação sexual, conhecida popularmente como “mudança de sexo”, outros não, ou ainda não puderam fazer a cirurgia.
No caso de homens trans que não passaram pela operação, ainda é necessário visitar o ginecologista, especialmente após o início do tratamento com hormônios.
Cuidados no tratamento hormonal
Com o uso contínuo de hormônios o corpo sofre alterações desejadas, mas também alguns efeitos colaterais que devem ser sempre acompanhados e controlados. Nesse caso, o próximo passo a ser avaliado é a realização da histerectomia, caso o homem transgênero não queira engravidar.
Porém, se ele tem interesse em reprodução, ele pode adiar esse passo por um tempo (mas não por muito), porque a pessoa pode ter problemas no útero ou nos ovários devido a exposição prolongada a testosterona recebida.
Esses passos devem ser bem avaliados, com consultas periódicas com ginecologista, endocrinologista e equipe multidisciplinar que conversa entre si, lidando com as questões desta pessoa para ver o que é melhor para ela.
Rotina ginecológica como o rastreio de câncer de mama e colo do útero se mantém também, com exceção de pacientes que retiraram colo do útero e mamas.
Menstruação
Por fim, outro ponto importante é a menstruação! Embora a menstruação ainda seja muito ligada ao gênero feminino, homens trans também podem menstruar, assim como pessoas não-binárias, intersexuais e tantas outras.
A menstruação é uma função biológica do nosso corpo, que não está relacionada ao gênero da pessoa. Então nem todas as mulheres menstruam e nem toda pessoa que menstrua é uma mulher.
Durante a transição, algumas pessoas trans tomam hormônios ou passam por cirurgias – como a remoção do útero – para colocar seu corpo em harmonia com sua identidade de gênero. Já outras não, como falamos acima. Por isso, precisamos normalizar o fato de que homens trans também precisam lidar com a menstruação.
Enquanto para alguns homens trans está tudo bem continuar menstruando, para outros pode ser um grande desconforto.
E aí está um ponto relevante! Um problema comum para o público transgênero é a falta de representatividade em relação aos produtos para menstruação. O uso exclusivo de termos relacionados ao gênero feminino, como “produtos de higiene feminina” é um exemplo.
A menstruação é uma experiência plural, que envolve mulheres cisgênero, mas não somente elas. Por isso, é importante não invisibilizar pessoas LGBTQIA+ que menstruam, inclusive as pessoas trans.
Conclusão
Deixo aqui um tema de profunda relevância e pouco falado nas escolas médicas e dentro dos consultórios. Um tema tão profundo e que o pouco conhecimento gera negligência e até mesmo discriminação. Já está mais do que na hora de mudarmos essa realidade. Seja você a diferença, para que no futuro se torne a regra.
DRA LARISSA FAZZI
CRM 183980
https://fazzimedicinaesaude.med.br/
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