Você sabe o que é constipação?
Você não precisa ir ao banheiro todos os dias, desde que não precise fazer força. Exatamente, não é porque você não evacua todos os dias que você tem prisão de ventre.
Existem alguns critérios para definirmos que uma pessoa é constipada. Para isto, ela deve, nos últimos 3 meses, apresentar algum dos seguintes sintomas:
- Evacuação menos que 3 vezes por semana
- Esforço para evacuar e ou fezes ressecadas
- Sensação de evacuação incompleta
- Necessidade de auxílio manual para eliminação das fezes
Quais as causas de constipação?
As principais causas de constipação relacionam-se com o estilo de vida e hábito das pessoas. Exatamente, a maior parte dos indivíduos não é constipado por alguma doença.
Entretanto, alguns pacientes de fato serão constipados. Nestes casos, temos que definir se a prisão de ventre ocorre por um funcionamento lento do intestino ou se por um funcionamento normal, mas com alguma dificuldade de expulsão das fezes.
Dentre as outras causas de constipação, podemos destacar o hipotireoidismo, síndrome do intestino irritável, uso de medicações como antidepressivos e opioides, retocele e anismus.
Por que quando eu viajo tenho dificuldade para ir ao banheiro?
Muitas pessoas se sentem incomodadas em evacuar fora de casa por conta do constrangimento. Na maior parte das vezes isto ocorre por medo de outras pessoas sentirem o odor exalado pelas fezes, ouvir sons de gases dentre outros.
Não faça isso!!! Não segure sua vontade pois bloquear sua necessidade fisiológica pode piorar ainda mais o desconforto! Com isto, há o aumento da formação de gases, provocando alterações de humor.
Como tratar a constipação?
Uma vez que a principal causa de constipação relaciona-se com hábitos de vida inadequados, as primeiras medidas a serem instituídas em um paciente constipado relacionam-se justamente com isto.
Desta forma, devemos nos policiar para:
- Não prender a evacuação se estivermos em um banheiro fora de casa
- Mantermos a ingesta hídrica de 30-35 ml de água, por kg de peso, por dia
- Consumo de 20g de fibras por dia (pelo menos)
- Pelo menos 30 minutos de atividade física por dia
Se não houver melhora com estas medidas, avaliaremos a realização de exames como exames laboratoriais, tempo de trânsito colônico, manometria anorretal, defecografia ou defecoressonância para a investigação de outras causas de constipação e a prescrição de laxantes.
Como é feito o tempo de trânsito colônico?
O tempo de trânsito colônico é um exame radiológicos que permite avaliar o tempo de trânsito intestinal. É frequentemente solicitado para pacientes com constipação.
São realizadas radiografias seriadas após a ingesta de cápsulas, avaliando seu tempo de expulsão. Não necessita de sedação e para pacientes usuários de laxantes cronicamente, é importante interromper seu uso 7 dias antes do exame.
O que é manometria anorretal?
A manometria anorretal é um dos principais exames para a avaliação do funcionamento do canal anal. Normalmente é indicado para pacientes com constipação ou incontinência fecal.
Trata-se de um aparelho com o qual inserimos um balão no ânus e dessa forma conseguimos avaliar as pressões exercidas pela musculatura do nosso esfíncter dentro do canal anal.
Este cateter é acoplado em um computador, transmitindo, assim, todas as informações necessárias. O tempo de exame é de cerca de 20 minutos e ele é indolor, não necessitando de sedação. É realizada uma lavagem retal cerca de 2 horas antes do exame.
A partir destes exames é que avaliaremos a realização de fisioterapia pélvica, com auxílio de biofeedback, e neuroestimulação, uso de medicações ou até de procedimentos cirúrgicos.
O que é o anismus?
A integração entre diversos mecanismos e funções do organismo é necessária para que a evacuação ocorra de forma natural, com fezes macias, sem esforço e com uma frequência adequada.
Um destes mecanismos é a correta coordenação dos movimentos da musculatura do ânus no momento da evacuação. Em uma analogia, devemos pensar no reto como um corredor com uma porta, que seria a musculatura esfincteriana (do canal anal).
Para que as fezes passem de forma adequada, esta porta deve se abrir. Se, por algum motivo, esta porta não for aberta, as fezes ficarão aprisionadas no corredor. Não importa a força realizada, elas não conseguirão passar este obstáculo.
Conseguiram entender? Pois bem, é isto que ocorre no anismus ou na contração paradoxal do puborretal, como também é chamado: uma incoordenação dos movimentos da musculatura do ânus no momento da evacuação. O músculo acaba contraindo quando ele deveria relaxar. Estas informações são obtidas no exame de manometria anorretal.
Quais os sintomas do animus?
Junto com a retocele, a contração paradoxal do puborretal é uma das causas de intestino preso com sintoma de evacuação obstruída (sensação que as fezes não saem por completo e que necessitam de muito esforço para sair).
O diagnóstico é feito com o estudo da fisiologia anal e o exame mais utilizado é a manometria anorretal.
Tenho contração paradoxal do puborretal, preciso operar?
A resposta é NÃO!!
O tratamento é realizado por meio de biofeedback ou fisioterapia pélvica. Com estes métodos conseguimos realizar um treinamento com a musculatura anal e, dessa forma, treiná-la para que volte a apresentar contrações voluntárias.
O que é biofeedback?
O biofeedback é um treinamento realizado com a musculatura anal. Ele pode ser utilizado para o tratamento de algumas doenças do canal anal como incontinência fecal, anismus ou proctalgia fugaz.
Trata-se de um aparelho com o qual introduzimos um balão no ânus e dessa forma conseguimos avaliar as pressões exercidas pela musculatura do nosso esfíncter dentro do canal anal.
Os exercícios são realizados de acordo com a queixa do paciente e podem ser associados com outros métodos como a eletroestimulação e fisioterapia pélvica a depender do quadro do paciente.
Vale ressaltar que são tratamentos indolores com o objetivo de maior consciência proprioceptiva da região e o comprometimento do paciente com a realização de exercícios em casa é extremamente importante para melhores resultados.
Quais os sintomas da retocele?
Diversos pacientes constipados queixam-se de sensação de evacuação incompleta, sensação de entalamento das fezes, “bola na vagina” ou pressão na região vaginal.
Além disso, algumas vezes é necessária a realização de manobras para a eliminação das fezes como pressionar o períneo, retirar as fezes com dedos, apertar a vagina com o dedo para conseguir evacuar ou afastar as nádegas.
Nestes casos, devemos suspeitar de retocele.
O que é a retocele?
Quando pensamos na anatomia do assoalho pélvico, devemos imaginá-lo como uma casa: os músculos representam o chão e os ligamentos teto. Dentro desta casa temos os nossos órgãos, como bexiga, vagina/ útero e reto.
Entre a vagina e o reto, temos o septo entalhamento, ele atua como a parede desta casa. Quando há uma fraqueza neste tecido, durante o esforço evacuatório, o reto se dobra sobre a vagina e ao invés das fezes serem eliminadas pelo ânus, elas se acumulam nesta região. Assim, a mulher necessita da realização de manobras e mais esforço para a evacuação.
Quais as causas de retocele?
Existem diversas teorias para a formação da retocele. Mas ele ocorre por conta do envelhecimento das fibras de colágeno e fibras musculares.
Dessa forma, ela ocorre mais frequentemente com o envelhecimento, após traumas em partos vaginais ou cirurgias ginecológicas como histerectomia ou endometriose e em pacientes com história de constipação crônica.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é realizado após a exclusão de outras causas de constipação e após história clínica e realização dos exames proctológicos e ginecológicos.
Após esta avaliação, solicita-se o exame de defecografia ou defecoressonância, que avaliam de forma dinâmica o processo de evacuação.
Como são feitas a Defecografia e a Defecoressonância?
Para sua realização, realiza-se a injeção de contraste de bário via retal. O paciente permanece sentado em uma cadeira especial, semelhante a um vaso sanitário, e dessa forma realizam-se imagens por radiografia ou ressonância magnética de forma dinâmica imitando o processo de evacuação.
Tenho o diagnóstico de retocele, preciso operar?
Não, nem todo paciente precisa ser operado de retocele. Algumas pessoas apresentam um abaulamento vaginal natural, que não influencia no processo de evacuação.
O tratamento inicia-se com a suplementação de fibras, ingesta hídrica adequada e uso de laxativos, quando necessário.
Para casos de retocele de maior volume (>3-4 cm), sem melhora com o tratamento clínico e em pacientes muito sintomáticos, indica-se a cirurgia.
O tratamento cirúrgico pode ser feito pela vagina, pelo ânus ou pelo períneo (região entre as duas estruturas anteriores), podendo inclusive ser realizado por meio de grampeadores.
DRA. ALINE CELEGHINI – PROCTOLOGISTA EM SÃO PAULO
A Dra. Aline Celeghini é Médica Coloproctologista e Cirurgiã Geral formada pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP).
Membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, atualmente é pós graduanda em Doenças Funcionais e Manometria do Aparelho Digestivo pelo Hospital Israelita Albert Einstein e professora da graduação em Medicina da Universidade Anhembi Morumbi.
A Dra. Aline Celeghini (CRM SP 183830) ajuda você a cuidar da saúde do seu intestino!
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